"Sou filho de Escobar, não cúmplice"
Juan Pablo Escobar diz que não abandonou o pai, mas que o criticava pela violência que cometia contra a Colômbia

Arquiteto, que hoje vive em Buenos Aires sob outra identidade, defende que dinheiro do narcotráfico seja entregue às vítimas

EDITORA DA ILUSTRADA

Leia a entrevista que Juan Pablo Escobar, 32, filho do narcotraficante líder do Cartel de Medellín, deu à Folha. (SYLVIA COLOMBO)

 

FOLHA - Qual foi sua primeira reação à ideia do filme? Por que decidiu falar depois de tanto tempo?
ESCOBAR - Eu não tinha mais motivo para me esconder. Queria compartilhar minha experiência com as novas gerações, para inspirá-las a se absterem de entrar no mundo violento do narcotráfico. É uma história que vale a pena contar para que não se repita.
FOLHA - No filme podemos ver que não faltou nada em sua infância. Como foi tomar consciência aos poucos do que se passava e de quem realmente era seu pai?
ESCOBAR - Minha vida esteve cheia de paradoxos. Tive muito e não pude desfrutar, porque sempre estávamos fugindo de algo ou de alguém. Tínhamos dinheiro, mas não liberdade. Em certa ocasião, tivemos muito dinheiro na mão, mas literalmente estávamos morrendo de fome, porque ninguém podia ir ao supermercado. Ou seja, o valor daquele dinheiro era relativo, e eu não podia ignorar essas lições de vida. Meu pai foi o criador de sua própria realidade, ainda que também tenha contado com a cumplicidade de muitos outros setores da sociedade para chegar aonde chegou.

FOLHA - Seu pai alguma vez lhe falou de Lara ou de Galán?
ESCOBAR - Quando Lara foi assassinado a mando do meu pai, eu tinha sete anos. Com essa idade, seus pais não lhe contam o que acontece em casa nem lhe falam sobre as decisões que tomam na vida.

FOLHA - Que opinião crê que seu pai teria se pudesse ver esse filme?
ESCOBAR - Quando ele se entregou para ser preso em La Catedral, dedicou o momento a, entre outros, seu "filho pacifista de 14 anos", ou seja, eu. Por isso tenho certeza de que estaria orgulhoso por eu ter escolhido a paz e recusado a violência. Ele sabe que eu nunca o abandonei em vida, que eu o respeitei, apesar de que nunca deixei de criticá-lo pela violência indiscriminada que cometia contra o país. Meu pai era um homem que estava cheio de justificativas para a violência. Mas creio que estaria feliz de ver o documentário, apesar da triste realidade que está ali refletida.

FOLHA - Você ficou muito nervoso antes de encontrar os filhos de Lara e Galán? Como se sentiu?
ESCOBAR - O nervosismo para a primeira reunião com Rodrigo Lara, em Buenos Aires, começou logo no momento em que eu o vi. Comecei a tremer de forma incontrolável. Para a segunda reunião, com todos os filhos, senti uma dor abdominal de proporção incomensurável.

FOLHA - Como é seu dia a dia hoje na Argentina?
ESCOBAR - Levo uma vida normal. Sem luxos, pois da fortuna não sobrou nada. Todos os bens de meu pai estão confiscados e em mãos dos políticos -e não das vítimas, como deveria ser.
Desenho casas e edifícios para a Argentina e outras partes do mundo. Estou casado com a mulher que amo e que deu tudo por mim e por minha família. Vivo em um apartamento alugado e me sinto mais milionário do que antes, porque sou um homem livre que segue apostando por ser reconhecido como indivíduo e como filho de Pablo Escobar, mas não como seu cúmplice.

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