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CLÓVIS ROSSI

O quebra-cabeças
SÃO PAULO - Desobedeço pelo segundo dia consecutivo as ordens médicas de repousar, mas, desta vez, é por um motivo nobre. "Novidadeiro" como todo repórter deve ser, não poderia ficar de fora da novidade que é o lançamento do novo projeto desta Folha.
Participo da festa com todo o entusiasmo. O novo projeto é exatamente o que acho que o jornalismo impresso deve seguir. Defendo, aliás, esse modelo há uns 20 anos. Mais precisamente, desde que a Rede Globo de Televisão, que é o principal veículo de informação para a maioria dos brasileiros, passou a fazer jornalismo, após o fim do comunismo, no mundo, e a queda de Fernando Collor, no Brasil.
Até então, a Globo dedicava-se a combater o supostamente onipresente comunismo internacional e seus braços brasileiros e a defender a civilização dita ocidental e cristã, que tinha pouco de civilização e quase nada de cristianismo.
Sobrava, pois, espaço para que os demais fizéssemos jornalismo, espaço que esta Folha aproveitou melhor que ninguém.
O jornalismo de tempos não tão remotos era a tarefa de recolher as peças de um quebra-cabeças e entregá-las ao leitor para montar. Jornalismo impresso, quero dizer, o único que atrevo a praticar. Depois, veio a fase de recolher as peças e também montar o quebra-cabeças.
Agora, a nova exigência é recolher as peças, montar o quebra-cabeças e, ainda por cima, explicar os antecedentes do desenho formado e suas consequências para o mundo, o país, a cidade e/ou o leitor.
Tudo no espaço de umas 10 ou 12 horas, que é o tempo que transcorre entre o momento em que o mundo abre as cortinas e o momento em que se fecha a edição.
É uma tortura diária, é um massacre físico e mental, mas é também a mais fascinante maneira de ganhar a vida honestamente. O resultado, você julga a partir de hoje.

crossi@uol.com.br

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