Rex e Fifi também poluem, depredam e gastam os parcos recursos naturais; animais domésticos são os novos vilões, para os ativistas mais xiitas

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Você se preocupa com sua pegada ambiental -o quanto de recursos do planeta seu estilo de vida consome? Faz reciclagem, usa mais bicicleta do que automóvel, é vegetariano? Talvez tenha faltado um ingrediente nos seus cálculos: a "patada ambiental" do Rex ou da Fifi.
O novo vilão dos ativistas mais radicais é o animal doméstico. Cães e gatos do planeta poluem o ambiente com suas fezes e urina, depredam a fauna nativa e usam uma quantidade de recursos equivalente ao consumo da população de vários países.
Uma dupla de ambientalistas da Nova Zelândia calculou que o impacto ambiental de um cachorro de porte médio é maior do que o de um automóvel popular.
Os números são polêmicos e contestados, mas o título do livro do casal dá a medida da provocação: "Time to Eat the Dog: The Real Guide to Sustainable Living" (literalmente, "Hora de Comer o Cachorro: O Guia Real para a Vida Sustentável"), de Robert e Brenda Vale.
Os Estados Unidos são os recordistas mundiais em número de pets: há ali em torno de 75 milhões de cães e 88 milhões de gatos.
A bicharada americana produz por ano dez milhões de toneladas de cocô de cachorro e dois milhões de toneladas de resíduos felinos.
Como há estimativas para quase tudo nos EUA, estudos indicam que 40% das pessoas não recolhem as fezes caninas durante o passeio.
Mesmo quem costuma recolher as fezes o faz em geral com sacos de plásticos, criando uma forma de lixo exótica e de duração eterna que entope os aterros sanitários e que causaria espanto em arqueólogos de uma civilização futura.
Não há dados precisos para o Brasil, mas o país estaria em segundo lugar no número de cães no mundo, entre 25 milhões a 30 milhões de cachorros. Já os gatos seriam entre 7 milhões e 12 milhões.

MAIS QUE UM CARRO
O casal Vale estima que, para produzir a ração anual para um pastor alemão, a "patada ambiental" é de 1,1 hectare. Calculando o equivalente em energia gasta para rodar 10.000 km por ano em uma perua Toyota Land Cruiser, a "pegada" seria de 0,41 hectares, dizem eles.
Um cachorro de grande porte usaria por ano os mesmos recursos que um habitante de um país pobre. A pegada ambiental média de um indiano ou de um paquistanês estaria em torno de 1,8 hectares, contra 6 hectares de um alemão ou sueco.
Críticos argumentam que o carro não só consome recursos, mas produz poluição. Os defensores da ração animal usam um argumento ainda melhor: a carne usada na ração não é a mesma que o ser humano consome.
O alimento pronto é feito com as partes do boi e das galinhas que os seres humanos não consumiriam normalmente, como vísceras, intestinos e ossos.
Ou seja, os pets estariam até dando uma contribuição ambiental, consumindo itens que normalmente teriam que ser jogados fora.

ALTA À VISTA
A população de animais domésticos tende a crescer em países em desenvolvimento, especialmente se o crescimento econômico permite renda extra para cuidar do bichano.
Recenseamento feito pela Faculdade de Veterinária da USP revelou que em 2008 havia 2,4 milhões de cães e 580 mil gatos na cidade de São Paulo. Entre 2002 e 2008, o aumento da população felina foi de 152,17% e o de cães foi de 60% - contra 3,5% de alta da população humana.
Não há estatísticas confiáveis sobre o número de animais abandonados no Brasil, ou mesmo na maior parte do mundo. Mas uma coisa é conhecida: é o contínuo abandono que mantém a existência de bichos sem casa.
Segundo Ricardo Augusto Dias, pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, é possível que o total de animais errantes atinja 10% do total em cidades como São Paulo.
"Não há interesse das autoridades em obter dados, só quando surge um problema de saúde pública", afirma.

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