FERNANDO DE BARROS E SILVA

Neymar, super-herói

SÃO PAULO - Neymar aparece comemorando seu gol na foto de Daniel Marenco publicada ontem, em duas páginas, no caderno Esporte, da Folha. Como ele, ela é incrível (www.folha.com.br/111742).
A imagem do jogador tem um quê de irrealidade, parece mais um adesivo colado sobre a paisagem do estádio que uma figura real. Flutuando no ar, com os cabelos espetados, os punhos cerrados e o grito (de festa e de guerra) escancarado na boca, Neymar é o próprio super-herói encarnado. Um "power ranger" da bola, um samurai ludopédico -como diria o santista Xico Sá- com o mundo a seus pés.
O craque do Santos é um sujeito estiloso, sabemos. O corte moicano é a sua marca. Mas há ainda as munhequeiras, uma preta e outra branca, e os meiões, que ele usa esticados, cobrindo os joelhos. O conjunto evoca o traje de um guerreiro, mas também um garoto fantasiado, um super-herói infantil dotado de poderes espetaculares.
No seu livro "Veneno Remédio: o Futebol e o Brasil", José Miguel Wisnik, também santista, diz que Garrincha, com seus dribles, levou ao paroxismo a "junção improvável da eficácia com a gratuidade". A imagem cai bem a Neymar, que parece estar o tempo todo brincando e, no entanto, a cada lance é de uma objetividade destruidora.
Muito mais decisivo, por exemplo, que Robinho, cujas pedaladas criam, de fato, como diz Wisnik, uma "zona randômica envolvendo pé, bola, marcador e campo", mas, muitas vezes, se perdem na sua própria prolixidade e se esgotam no seu aspecto ornamental. Neymar é um Robinho lapidado para o gol.
Há ainda outra habilidade menos comentada do craque -o passe. Cercado por dois ou três zagueiros, ele ginga e para em frente a bola. Quando todos esperam mais um drible, acha uma brecha improvável no meio das pernas adversárias para, num toque, colocar o companheiro em situação de fazer o gol. É o lado Ganso, o apolíneo, deste dionisíaco super-herói dos gramados.

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