Marcelo Coelho

Está para ser feita a lista das dez citações mais frequentes na crítica literária, na sociologia e no ensaísmo acadêmico.
Ganharia o primeiro lugar, provavelmente, aquela de Marx segundo a qual a história se repete como farsa. Não ficaria muito atrás a observação de Walter Benjamin (1892-1940) sobre o declínio da experiência e da arte de narrar.


Walter Benjamins



No final da Primeira Guerra Mundial (1914-18), escreve Benjamin, "os combatentes tinham voltado mudos do campo de batalha". Não retornaram mais ricos em experiência comunicável, prossegue ele, e sim mais pobres. "Os livros de guerra que inundaram o mercado literário nos anos seguintes não continham experiências transmissíveis de boca em boca."


O próprio Benjamin inaugurou a prática de enunciar a sentença em mais de uma ocasião. Tanto no ensaio "Experiência e Pobreza", de 1933, quanto em "O Narrador", de 1936, deparamo-nos com a mesma ideia. Os soldados voltaram silenciosos do front. Ponto. A frase também nos deixa mudos, com seu baque de verdade. Mas será verdade? Se for, em que medida? E por quê? De resto, como conciliar a dita mudez dos soldados com o fato de que romances, poemas e relatos autobiográficos acabaram sendo escritos?


Perguntas demais para um artigo só. De início, vale registrar que o tema benjaminiano do silêncio nas trincheiras aparece em dois lançamentos de não ficção, "Guerra Aérea e Literatura", do escritor alemão W. G. Sebald (1944-2001), e "Literatura e Guerra", coletânea de ensaios organizada por Elcio Cornelsen e Tom Burns.

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