Dilma age rápido na crise de olho na classe média Presidente usa pesquisas de opinião para nortear ação nos Transportes

Dilma age rápido na crise de olho na classe média

Presidente usa pesquisas de opinião para nortear ação nos Transportes


Datafolha mostrou que demora no afastamento de Palocci causou perda de apoio ao governo nesta faixa de renda

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

Ao menos uma preocupação orientou o governo na crise no Ministério dos Transportes desde seu primeiro dia: a repercussão do escândalo na classe média.
A presidente Dilma Rousseff viu dados de pesquisas internas de opinião, analisou o impacto do caso nesse estrato social e, em seguida, concluiu que "a linha (de ação) está boa".
Interlocutores descreveram a cena, afirmando que a decisão de afastar rapidamente os suspeitos de irregularidade da pasta "pegou bem" entre os entrevistados com melhor remuneração, justamente a base social que Dilma quer pavimentar como ativo político neste mandato.
No primeiro dia da crise, a presidente determinou o afastamento de quatro servidores citados em reportagem da revista "Veja" como operadores de um esquema de corrupção no ministério, no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e na Valec, estatal de ferrovias.
Quatro dias mais tarde, caía o então ministro Alfredo Nascimento. Aliados no Congresso protestaram contra o desligamento "apressado" de apadrinhados políticos, alegando ausência de provas para um rito sumário. Praticamente todos os suspeitos citados pela imprensa deixaram seus cargos em questão de horas.

PERDA DE PONTOS
Após a experiência "pedagógica" na crise que derrubou Antonio Palocci da Casa Civil, o Planalto decidiu agir rápido nos Transportes para não perder mais pontos com a classe média.
Com Palocci, Dilma levou três semanas para sacramentar a demissão de seu auxiliar mais poderoso. A demora custou-lhe perda indiscutível de apoio nessa camada específica.
"Ficou muito claro para a população que ela deveria ter sido mais rápida. Acho que a postura atual, de demorar poucas horas, é um reflexo [da crise anterior]", afirmou Mauro Paulino, diretor do Datafolha.
Tanto que a imagem de "indecisa" de Dilma pulou de 15% em março para 34% em junho. Ela também viu crescer sua avaliação negativa entre aqueles com remuneração superior a 10 salários mínimos -de 9%, em março, para 20% em junho.
Nesse mesmo corte, 79% avaliaram que a crise envolvendo a Casa Civil foi prejudicial ao governo.
"É muito clara a postura mais crítica da classe média do que na base da pirâmide social", disse Paulino.
Como houve lentidão para definir o destino de Palocci, Dilma decidiu ter pressa com Alfredo Nascimento e alguns de seus comandados.
Nas palavras de um ministro, "Dilma quer mostrar a todos, mas sobretudo à classe média, que não tem contemplação com desvio ético".
No passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era criticado por manter em sua equipe servidores acusados de cometer irregularidades. Como mantra, ele dizia que cabia ao acusador o ônus da prova.

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