DOPPING

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RITA SIZA

Vícios privados

Não será legítimo esperar que os esportistas não usem drogas, quaisquer que elas sejam?


Lembrei o velho adágio que fala das virtudes públicas e dos vícios privados por causa de duas histórias que envolvem o comportamento de atletas britânicos divulgadas na imprensa durante a semana.
A primeira resulta de uma investigação do Channel 4 sobre futebolistas que foram expostos em testes de doping como consumidores de "drogas sociais" -cocaína, ecstasy, marijuana- e posteriormente protegidos quer pelos respectivos clubes, quer pela federação nacional de futebol, que nunca divulgou os resultados dessas análises.
A outra, ilustrada em fotos por tabloides, diz respeito a uma noite de folia da selecção inglesa de rúgbi em plena Copa do Mundo, envolvendo o consumo de álcool em quantidades industriais e aparentemente um concurso de "lançamento do anão", num bar de Queenstown, na Nova Zelândia.
São dois exemplos interessantes, que levantam questões de difícil resposta. Quais as regras que devemos aplicar ou quais os critérios que devemos defender quando nos deparamos com comportamentos "errados" de atletas profissionais, se o que está em causa são actos individuais privados e não esportivos?
Por princípio, devemos garantir o direito à liberdade e o respeito pela privacidade, sem isentar ninguém: em teoria, os cidadãos anónimos e as personalidades públicas têm a mesma margem de manobra para conduzir a sua vida livremente e, se não estiverem a cometer ilícitos ou irregularidades graves, devem ser deixados em paz.
Mas depois vêm casos como estes -"nebulosos"-, em que os comportamentos individuais, censuráveis, reprováveis, ocorrem em público e põem em causa o desempenho esportivo. Liberdade, sim, mas responsabilidade também.
Ninguém diz que os atletas têm de viver uma vida espartana, mas seguramente é razoável esperar que uma equipa de profissionais observe algumas regras quando está a representar o seu país e a participar de uma competição internacional?
E não será também legítimo esperar que os esportistas não usem drogas, quaisquer que elas sejam, para que esteja garantida a verdade e lealdade da competição? Não podemos esquecer que, além de profissionais, eles são figuras públicas que -voluntariamente ou não- motivam, influenciam e servem de exemplo para um vasto público.
É verdade que os futebolistas que acusaram o consumo de substâncias ilícitas foram sujeitos a uma punição. No entanto, se a sua identidade permanece escondida e o seu "problema" é disfarçado como uma lesão, resta saber se o castigo corresponde ao crime.

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